25 noviembre 2008

pré-estréia cine capacete loop - não é cinema, não é vídeo, nem televisão.

raramente foi lembrado que a ingênua relação do ouvinte para com o contador de histórias é controlada por seu interesse em reter o que lhe é contado. o ponto crucial para o ouvinte indiferente é assegurar-se da possibilidade de reproduzir a história. memória é a faculdade épica por excelência. 
–o narrador (1936), walter benjamin

certa vez walter benjamin chamou de filme a psicanálise das imagens. ambos, psicanálise e cinema, se desenvolveram e se tornaram populares na mesma época. 

sob um ponto de vista simplista, tanto a psicanálise como o filme narrativo de ficção se apóiam nos mesmos mecanismos. na psicanálise o paciente, liberto das limitações racionais da vida cotidiana, escreve o script para suas imagens em um processo de memória, ficção, construção, contradição, sofrimento e imaginação; apresenta o filme de sua vida ao analista, seu exclusivo, porém atento público. 

os filmes são imagens memoráveis baseadas tanto na imaginação como em eventos reais; são imagens de experiências traumáticas ou talvez apenas ilusões. o que quer que sejam, serão sempre imagens mentalmente construídas. 

orson wells, em uma famosa entrevista publicada em junho de 1958 no cahiers du cinéma, ao falar sobre televisão, deu exemplos de como podemos pensar os diferentes modos de linguagem audiovisual:

é uma forma maravilhosa aonde o espectador está apenas a dois metros da tela e onde conteúdo não assume forma dramática, mas narrativa. a televisão não é plástica em sua forma, mas nas idéias que pode transmitir. televisão é a expressão ideal para o narrador. pode-se falar dez vezes mais em um tempo dez vezes menor que o do cinema, pois falamos para poucas pessoas e, o que é mais importante, diretamente aos ouvidos. pela primeira vez na televisão, o filme assume um valor real, descobre sua função verdadeira porque o que ela transmite, como meio, é mais importante do que aquilo que mostra. portanto, as palavras já não são mais as inimigas do filme. o filme somente ajuda as palavras, assim como a televisão nada mais é do que um rádio ilustrado. 

quando lhe perguntaram se o público se mantinha tão alerta diante da televisão quanto no cinema, wells respondeu:

se mantém mais alerta, pois está ouvindo e não assistindo. o telespectador escuta e não escuta; se estiver apenas ouvindo, então fica muito mais alerta do que quando está no cinema, pois o cérebro está mais ocupado em escutar do que em assistir. temos que pensar enquanto escutamos; o assistir é uma experiência sensorial mais bonita, pode ser até mais poética, mas o papel desempenhado pela atenção é secundário.

walter benjamin observou que:

um homem escutando a uma história está acompanhado do narrador.

ele argumentava que a habilidade de trocar experiências – a qual depende da narração de histórias - era ameaçada pelas estruturas sociais e pelas tecnologias que dominavam a europa depois da primeira guerra mundial. e formas de arte como a novela criaram mais e mais distância entre o narrador e o ouvinte. lutando contra as implicações da reprodução mecânica da arte (e.g., fotografia e filme), walter benjamin comenta:

a presença do original [trabalho de arte] é o pré-requisito para o conceito de autenticidade.

nossa ideia de autenticidade se estende a novos limites quando nossa maneira de contar histórias é mediada pela internet – onde uma imagem é vista em múltiplos lugares ao redor do mundo no clique de um botão. 

a 28ª bienal se propôs à auto-discussão do conceito de bienal, voltando na história e discutindo sua importância e futuras intenções num mundo infestado por propostas similares. e faz isso, entre outras coisas, ao convidar artistas que investigarão arquivos históricos, ao expor trabalhos históricos importantes e ao transmitir uma manifestação vigorosa ao deixar o segundo andar do pavilhão da bienal completamente vazio; ao nos contar uma história. 

neste sentido, capacete como organização convidada, se propôs a discutir aquele psico-histórico conceito da “seqüência fechada” por meio de projetos específicos de artistas que investigaram não apenas o efeito técnico da seqüência fechada, como vexation island (1997), de rodney graham, como a reutilização de imagens encontradas como em schnittstelle [interface] (1995), de harun farocki, e também em ações performáticas e projetos de kasper pederson e raimond chaves. a história como o efeito de uma “seqüência fechada”.

capacete não tem o interesse em investigar o simples efeito técnico do “loop” extensamente utilizada em exposições no mundo todo; sua proposta consiste em obter diferentes leituras por meio de diferentes ações sob a forma de diferentes exposições espalhadas pela cidade de são paulo, incluindo o próprio pavilhão da bienal, criando assim uma investigação mais abrangente sobre a percepção que temos a respeito da nossa história e do seu constante movimento de ir e vir, como uma eterna “seqüência fechada”. o que propomos é dar ao contador de histórias, o artista, seu conceito de autenticidade.

estamos cansados de saber que qualquer um de nós já foi invadido pela imagem e que disso não temos escapatória. o ponto não é fugir disto, mas deixar isto escapar aos seus contextos criando desta forma o seu conteúdo desesperado, assim como não é a partir do excesso de imagem que devemos nos esconder, mas sim da falta de conteúdo que o seu excesso tem provocado.
capacete entretenimentos cinema capacete 
loop - não é cinema, não é vídeo nem televisão
com
 harun farocki (alemanha)
rodney graham (canada)
wendelien van oldenburgh (holanda)
kasper pedersen (dinamarca)
raimond chaves (colombia)

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